segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Motoristas intolerantes têm se tornado cada vez mais frequentes no DF

Devido a uma batida em um estacionamento de Sobradinho, Cláudio Mário da Silva, por pouco, não partiu para o confronto com outro motorista: %u201CQuase entro numa briga sem sentido%u201D (Bruno Peres/CB/D.A Press)
Devido a uma batida em um estacionamento de Sobradinho, Cláudio Mário da Silva, por pouco, não partiu para o confronto com outro motorista: %u201CQuase entro numa briga sem sentido%u201D

Cláudio Mário da Silva sempre foi visto por familiares e amigos como uma pessoa equilibrada, incapaz de levantar a mão para alguém. Há dois anos, um acidente de trânsito sem maiores consequências transformou, por alguns segundos, o empresário de 42 anos. Ele bateu levemente na traseira do carro de um homem, num grande estacionamento em Sobradinho. Nervoso, desceu do veículo. Gesticulou, xingou e só não partiu para a agressão porque o motorista do outro carro manteve a calma. Com a situação apaziguada, Cláudio admitiu o erro, pagou o conserto dos dois veículos e jurou nunca mais se estressar ao volante. “Simplesmente por não parar para pensar, quase entro numa briga sem sentido”, admitiu.

A fúria momentânea do empresário é um comportamento cada vez mais comum entre os motoristas do Distrito Federal, onde a frota já atingiu a marca de 1,3 milhão de automóveis. O exemplo mais recente de intolerância nas vias acabou tirando a vida do estudante de gastronomia Fernando Cavalcante da Silva, 32 anos, na madrugada do dia 15. Ele foi atender a um chamado do irmão mais novo, João Paulo Cavalcante, 22, que acabara de bater na traseira do carro do sargento da Polícia Militar Renato Campos, 34. Não houve acordo entre as partes e o bate-boca se transformou em agressão. Os irmãos avançaram contra o policial, que disparou quatro vezes contra eles. Fernando morreu na hora e João Paulo ainda se recupera no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) (leia Memória).

Quando um acidente de trânsito acaba em violência e vai parar nos tribunais, os magistrados têm dificuldade para encontrar o culpado. Em muitos casos, ambos os envolvidos na confusão são punidos. Em setembro do ano passado, um juiz da 2ª Vara Cível de Brasília decidiu que duas mulheres se indenizassem por terem brigado, em maio de 2006, no Dia das Mães, no estacionamento de uma escola na Asa Sul.

As duas motoristas, que não tiveram os nomes divulgados, trocaram socos e pontapés, na frente dos filhos, após uma colisão na saída da confraternização. A autora da ação deve receber R$ 10 mil, mas, em contrapartida, terá de pagar R$ 5 mil à outra mulher. O promotor criminal de delito de trânsito Delson Luís Bastos Ferro confirma que o entendimento dos magistrados tem seguido essa linha, principalmente pela falta de testemunhas que confirmem quem, de fato, iniciou a discussão. “Normalmente, as testemunhas são parentes ou amigos e cada um dá a sua versão. Na impossibilidade de imputar a responsabilidade a alguém, o juiz acaba admitindo a culpa das duas partes”, afirmou Delson Luís.

Acidente e tiros
O próprio promotor já presenciou, quando era agente da Polícia Civil, uma tentativa de homicídio decorrente de uma discussão banal. “Um rapaz fechou o outro no SIA (Setor de Indústria e Abastecimento). Foi o suficiente para que se iniciasse uma perseguição. No Guará, o homem que estava atrás sacou um revólver e disparou quatro vezes. Por sorte, a vítima foi atingida apenas de raspão no braço. Socorri o homem ferido e passei a placa do carro para outra unidade policial, que conseguiu prendê-lo”, lembrou.

Foi justamente um motorista armado e descontrolado que poderia ter causado uma tragédia na família do autônomo André Luís Mendes, 32 anos. Ele voltava para casa pela BR-020 (rodovia que liga Brasília a Formosa), na altura de Sobradinho, com a filha e a esposa. De acordo com ele, um homem trafegava, na faixa da esquerda, a menos de 40km/h na rodovia, cuja velocidade máxima é de 80km/h. Quando André Luís pediu passagem acionando e desligando o farol alto, o condutor do carro da frente se irritou e mostrou uma arma pela janela. “Fiquei desesperado. Ele poderia ter atirado e acertado meu filho ou minha esposa. Em nenhum momento eu o ofendi, só queria alertá-lo para andar na faixa da direita, inclusive, para a segurança dele”, relatou.

Fonte: Correio Braziliense 23/01/2012

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